domingo, 7 de novembro de 2010

O Primeiro de todos os dia de aula da minha vida

O Primeiro de todos os Dias de Aula da Minha Vida

Acredito que tenho prazer em recordar momentos vividos com intensidade, são muitas experiências que guardam no baú de minhas recordações pessoais. O primeiro dia de aula é uma lembrança que mistura ansiedade, curiosidade e novas descobertas daquele menino de 8 anos. Ainda hoje, sou capaz de vivenciar aquele dia 04 de março de 1969, lá no patrimônio de Centenário, município de Mutum-MG.
Na minha família, meus irmãos mais velhos foram alfabetizados em casa mesmo, não existiam escolhas próximas e meu pai gostava de ensinar o alfabeto e as principais operações matemáticas aos rapazes e moças da região. Com isto meus irmãos aprenderam a ler, escrever e fazer cálculos com nosso pai. José e eu somos os mais novos da família e o Sr Amado Raposo já estava com seus 55 anos, as vistas cansadas, por isso resolveu matricular seus filhos no colégio público que estava sendo construído.
Como um casal católico, papai e mamãe sempre participavam das missas celebradas a cada mês na Igreja de São Sebastião, os filhos também iam rezar. Foi numa tarde de domingo que esta história começou: A missa havia terminado e nós estávamos na calçada da capela, mamãe conversando com suas amigas e comadres e papai estava por perto; eu e José esperávamos nossos pais. Não demorou muito e apareceu uma mulher que se destacava das demais pelo modo de se vestir, era a Professora Daizi Basílio de Novais, logo o Sr Amado falou: boa tarde professora, tudo bem! E continuou, quero matricular meus filhos no colégio, como faço? Ela prontamente passou as devidas informações e fomos apresentados.
Quando chegou o começo das aulas, o colégio novo não tinha sido inaugurado e as aulas começaram numa pequena sala alugada pela prefeitura. Papai nos acompanhou até o patrimônio. Enfrente a sala de aula no meio da rua fizeram a chamada de todos os alunos matriculados, cada turma formava uma fila com sua professora e nós do primeiro ano ficamos com a professora Daizi, cantamos o hino nacional pela primeira vez. No dia seguinte, depois das devidas recomendações de mamãe, eu e José fomos sozinhos para o colégio. Como foi difícil sair sem a companhia de nossos pais. Ainda bem que eu não estava sozinho, pois o medo era muito. Chegando na sala de aula, a professora de unhas grandes e vermelhas começou a escrever com giz branco as vogais no quadro negro.
Cada aluno devia desenhar aquelas letras no seu caderno, mas como ninguém nunca tinha segurado um lápis para escrever, a professora de unhas grandes e vermelhas começou pegando na mão de cada um para ensinar. Eu tremia de medo, a professora era muito estranha para aquele menino de apenas oito anos, não acostumado com pessoas estranhas. Não conseguia prestar atenção nas aulas e quase furava a folha do caderno com a ponta do lápis, quando ia apagar a letra errada com a borracha, quase rasgava a folha.
Com tanto medo da professora, eu, muitas vezes, queria ficar em casa, mas Dona Maria pegava um chinelo ou vara de guaxima e ameaçava dar uma surra. Imediatamente, eu pegava o caderno e o lápis colocava no embornal e logo subia o morro perto de casa rumo a escola. Aos poucos fui acostumando com a professora e fazendo novas amizades, isto foi criando em mim o desejo de estudar sempre. O novo colégio ficou pronto e inaugurado no dia 21 de abril de 1969. No segundo ano, eu já não falava mais “bodeca”, mas boneca e gostava muito de declamar poesias. Guardo com emoção a lembrança de todos os colegas que estudaram comigo nos primeiros anos do ensino fundamental, assim como as professoras: Daizi, Eni, Delma e Marli.

Ermindo Rapozo de Assis

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