sábado, 17 de agosto de 2013

COM MARIA, NÓS CREMOS NO MISTERIO DA SANTISSIMA TRINDADE!



Estamos celebrando neste dia, a glorificação da Virgem Maria na solenidade de sua Assunção. Aqui em nossa paróquia, nós a invocamos com o título de Nossa Senhora Rainha da Paz. Neste “Ano da Fé”, que foi inaugurado pelo Papa emérito Bento XVI no dia 11 de outubro de 2012 e terminará na Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo em novembro desde ano, queremos conhecer Maria Santíssima a partir de sua fé na Trindade Santa: Pai, Filho e Espírito Santo.
O Evangelho de Lucas 1,39-56 nos fala da visita que Maria fez a Isabel, que em idade avançada esperava ser mãe de João Batista. As duas eram parentas, em situações distintas foram escolhidas para serem mães, segundo os desígnios de Deus. João Batista anunciou aos judeus a conversão dos pecados e a chegada do Messias; Jesus se manifestou como o Filho de Deus, curando os doentes e perdoando os seus pecados.
Somente entenderemos a fé de Maria no contexto da espera messiânica. Ela, sendo a Filha de Sião, mantinha a esperança no cumprimento das promessas de Deus em relação a seu povo. A Jovem de Nazaré conhecia a profecia e mantinha-se fiel aos mandamentos de Deus, por esse motivo foi saudada elo Anjo Gabriel com estas palavras: “alegre-se, cheia de graça! O Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Sua prima Isabel, emocionada e cheia do Espírito Santo, grita em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e Bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42).
O povo judeu professava a fé num único Deus, todo poderoso criador do céu e da terra; para os conterrâneos de Maria e de José, o mistério da Santíssima Trindade era desconhecido, contudo, eles esperavam o Messias, o ungido de Deus para libertar o seu povo. Abraão, Isaac, Jacó, Moisés e todos os profetas professavam sua fé no Deus único e verdadeiro. Jeremias, Isaias, Ezequiel e outros já profetizavam a vinda do Messias; João Batista nos apresenta Jesus como o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
Em seu magnificat, a jovem de Nazaré faz sua profissão de fé num Deus todo poderoso que fez grandes coisas em seu favor, que seu nome é santo e sua misericórdia se estende de geração em geração, a todos os que o respeitam. Este Deus todo poderoso é adorado pelos judeus e por nós cristãos do mundo inteiro; a única diferença é que nós cristãos o adoramos como: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, um só Deus em três pessoas.
Esta verdade revelada aos apóstolos foi transmitida a nós pela Igreja, que tem em Maria Santíssima a sua mais perfeita realização; por isso a liturgia de hoje nos apresenta a leitura de Apocalipse que fala da “Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”(Ap 12.1). A Virgem Maria é símbolo da Igreja peregrina, que se mantém fiel ao projeto de Deus.
A Bem-aventurada sempre Virgem Maria, como diz o teólogo Bruno Forte, é ícone do Mistério. Ela é a filha do Deus que é Pai, ela é Mãe do Deus Filho e concebeu pelo poder do Espírito Santo que é Deus. Nesta relação toda especial e única com o Deus Uno e Trino, Maria torna-se um modelo de fé e de esperança para os cristãos. Olhando para a Mãe de Jesus, nós encontramos a plena realização das promessas de Deus.
Quando a Igreja declara a Assunção de Maria, está confirmando para nós que na Virgem de Nazaré se realizou plenamente o Mistério da Ressurreição de Cristo. Ela foi glorificada pela ação redentora de seu divino Filho. Todos nós batizados seremos glorificados pela ação de Deus em nós, esta é a nossa fé. Maria é aquela que está mais perto de Deus, sem deixar de ser humana.
Podemos rezar com todos os devotos de Maria, dizendo: “sob a vossa poderosa proteção, recorremos Santa Mãe de Deus para que sejamos dignos das promessas de Cristo! Amém.”                            
Santa Maria de Jetibá-ES, 15 de agosto de 2013 – Padre Ermindo Rapozo de Assis


sábado, 10 de agosto de 2013

“O Auto da Compadecida”





Este clássico da literatura brasileira apresenta para nós um impressionante enredo, ambientado na região nordeste do Brasil, seu principal personagem é João Grilo. Um homem simples, mas que a realidade sofrida dos nordestinos o fez ser esperto e muito inteligente. O grande momento da obra literária é o julgamento de João Grilo, após sua morte. No Tribunal Celeste, aparece o demônio como acusador dos pecadores, o grande juiz se manifesta com pele negra e é apresentado como Emanuel, Deus conosco, Jesus Cristo Rei do Universo. Por fim, atendendo ao apelo de João Grilo, aparece Maria Santíssima, a Compadecida Mãe de Jesus, como advogada de defesa.
Como advogada, a Virgem Maria obteve um ótimo desempenho, pois conseguiu aliviar a sentença de todos os pecadores: o padeiro e sua infiel esposa, o bispo ganancioso e o padre interesseiro, o cangaceiro assassino e o habilidoso João Grilo. Diante desta cena, podemos perguntar: isto é só imaginação do autor ou tem fundamento na Bíblia e na tradição da Igreja? De imediato, vem a memória a oração da Salve Rainha, quando rezamos: “eia, pois, advogada nossa”, bem como as invocações da Ladainha de Nossa Senhora, quando invocamos a Mãe de Jesus como “espelho de justiça”,  “ refugio dos pecadores”, “consoladora dos aflitos” e “auxilio dos cristãos”. Acredito que o talentoso Ariano Suassuna encontrou sua inspiração nestas conhecidas orações de nosso povo católico. Na Bíblia, encontramos o texto de João 2,1-11, quando a Mãe de Jesus intercede junto de seu Filho em beneficio de uma grande festa de casamento, as bodas de Caná. Quando leio esta passagem bíblica sinto o coração vibrar e junto com os discípulos de Jesus, renovo a minha fé no Filho de Deus.
Acredito que nossa confiança na intercessão de Maria junto a seu Divino Filho não diminui nossa é em Jesus Cristo, como cristãos devotos de Maria devemos sempre praticar os ensinamentos de Cristo, pois somente nossa fé nos justificará. No dicionário de mariologia, encontramos o verbete: “mediadora”, onde o teólogo Salvatore Meo fala que o Concilio Vaticano II preferi os títulos de Serva do Senhor, Filha de Sião, Mãe do Salvador, Sócio do Redentor, e a obra de Maria é expressa como: função materna para com os homens, maternidade na economia da graça, função subordinada. No mesmo verbete nos diz que: “o conceito pleno de da salvação humana inclui pelo menos três elementos fundamentais: libertação, promoção, comunhão... somente Cristo realiza a salvação humana nesta totalidade de significados”.
Existem muitos defensores do quinto dogma mariano, o da mediação de Maria Santíssima, contudo existem também teólogos que não concordam e acham desnecessário. Na Constituição Apostólica Lumen Gentium, encontramos o numero 62 com a seguinte afirmação: “nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano com o Verbo Encarnado e Redentor.” Assim sendo, nossa redenção é obra exclusiva de Jesus Cristo. Somente Ele nos resgatou do pecado, dando-nos uma vida nova. Nele somos novas criaturas, pelo batismo recebemos a adoção de filhos e filhas de Deus com a força do Espírito Santo para vencermos o pecado em nossa vida.
Pessoalmente, eu prefiro falar de intercessão da Mãe de Jesus, pois os termos: medianeira de todas as graças e co-redentora geram dificuldades de interpretação. Acredito que a declaração de um novo dogma mariano não acrescentaria muita coisa ao depositum fidei. Gosto mais de olhar para a Virgem Maria e vê nela a primeira discípula, alguém que está mais perto de nós como disse o personagem João Grilo da obra de Ariano Suassuna. Quanto mais falarmos de Maria como criatura humana e não uma semideusa nos ajudará a viver plenamente nossa verdadeira fé em Jesus Cristo. O papa emérito, Bento XVI disse em Aparecida: “Maria Santíssima é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do Ceu e da terra.” (DA 270).
Autor: Padre Ermindo Rapozo de Assis