quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Maria «Mater Verbi Dei» e «Mater fidei»
Maria «Mater Verbi Dei» e «Mater fidei»
27. Os Padres sinodais declararam que o objectivo fundamental da XII Assembleia foi «renovar a fé da Igreja na Palavra de Deus»; por isso é necessário olhar para uma pessoa em Quem a reciprocidade entre Palavra de Deus e fé foi perfeita, ou seja, para a Virgem Maria, «que, com o seu sim à Palavra da Aliança e à sua missão, realiza perfeitamente a vocação divina da humanidade».[79] A realidade humana, criada por meio do Verbo, encontra a sua figura perfeita precisamente na fé obediente de Maria. Desde a Anunciação ao Pentecostes, vemo-La como mulher totalmente disponível à vontade de Deus. É a Imaculada Conceição, Aquela que é «cheia de graça» de Deus (cf. L c 1, 28), incondicionalmente dócil à Palavra divina (cf. L c 1, 38). A sua fé obediente face à iniciativa de Deus plasma cada instante da sua vida. Virgem à escuta, vive em plena sintonia com a Palavra divina; conserva no seu coração os acontecimentos do seu Filho, compondo-os por assim dizer num único mosaico (cf. L c 2, 19.51).[80]
No nosso tempo, é preciso que os fiéis sejam ajudados a descobrir melhor a ligação entre Maria de Nazaré e a escuta crente da Palavra divina. Exorto também os estudiosos a aprofundarem ainda mais a relação entre mariologia e teologia da Palavra. Daí poderá vir grande benefício tanto para a vida espiritual como para os estudos teológicos e bíblicos. De facto, quando a inteligência da fé olha um tema à luz de Maria, coloca-se no centro mais íntimo da verdade cristã. Na realidade, a encarnação do Verbo não pode ser pensada prescindindo da liberdade desta jovem mulher que, com o seu assentimento, coopera de modo decisivo para a entrada do Eterno no tempo. Ela é a figura da Igreja à escuta da Palavra de Deus que nela Se fez carne. Maria é também símbolo da abertura a Deus e aos outros; escuta activa, que interioriza, assimila, na qual a Palavra se torna forma de vida.
28. Nesta ocasião, desejo chamar a atenção para a familiaridade de Maria com a Palavra de Deus. Isto transparece com particular vigor no Magnificat. Aqui, em certa medida, vê-se como Ela Se identifica com a Palavra, e nela entra; neste maravilhoso cântico de fé, a Virgem exalta o Senhor com a sua própria Palavra: «O Magnificat – um retrato, por assim dizer, da sua alma – é inteiramente tecido de fios da Sagrada Escritura, com fios tirados da Palavra de Deus. Desta maneira se manifesta que Ela Se sente verdadeiramente em casa na Palavra de Deus, dela sai e a ela volta com naturalidade. Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se Palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, fica assim patente que os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o d’Ela é um querer juntamente com Deus. Vivendo intimamente permeada pela Palavra de Deus, Ela pôde tornar-Se mãe da Palavra encarnada».[81]
Além disso, a referência à Mãe de Deus mostra-nos como o agir de Deus no mundo envolve sempre a nossa liberdade, porque, na fé, a Palavra divina transforma-nos. Também a nossa acção apostólica e pastoral não poderá jamais ser eficaz, se não aprendermos de Maria a deixar-nos plasmar pela acção de Deus em nós: «A atenção devota e amorosa à figura de Maria, como modelo e arquétipo da fé da Igreja, é de importância capital para efectuar também nos nossos dias uma mudança concreta de paradigma na relação da Igreja com a Palavra, tanto na atitude de escuta orante como na generosidade do compromisso em prol da missão e do anúncio».[82]
Contemplando na Mãe de Deus uma vida modelada totalmente pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida. Como nos recorda Santo Ambrósio, cada cristão que crê, em certo sentido, concebe e gera em si mesmo o Verbo de Deus: se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a fé, porém, Cristo é o fruto de todos.[83] Portanto, o que aconteceu em Maria pode voltar a acontecer em cada um de nós diariamente na escuta da Palavra e na celebração dos Sacramentos.
Fonte EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
PÓS-SINODAL
VERBUM DOMINI
DO SANTO PADRE
BENTO XVI
domingo, 7 de novembro de 2010
O Primeiro de todos os dia de aula da minha vida
O Primeiro de todos os Dias de Aula da Minha Vida
Acredito que tenho prazer em recordar momentos vividos com intensidade, são muitas experiências que guardam no baú de minhas recordações pessoais. O primeiro dia de aula é uma lembrança que mistura ansiedade, curiosidade e novas descobertas daquele menino de 8 anos. Ainda hoje, sou capaz de vivenciar aquele dia 04 de março de 1969, lá no patrimônio de Centenário, município de Mutum-MG.
Na minha família, meus irmãos mais velhos foram alfabetizados em casa mesmo, não existiam escolhas próximas e meu pai gostava de ensinar o alfabeto e as principais operações matemáticas aos rapazes e moças da região. Com isto meus irmãos aprenderam a ler, escrever e fazer cálculos com nosso pai. José e eu somos os mais novos da família e o Sr Amado Raposo já estava com seus 55 anos, as vistas cansadas, por isso resolveu matricular seus filhos no colégio público que estava sendo construído.
Como um casal católico, papai e mamãe sempre participavam das missas celebradas a cada mês na Igreja de São Sebastião, os filhos também iam rezar. Foi numa tarde de domingo que esta história começou: A missa havia terminado e nós estávamos na calçada da capela, mamãe conversando com suas amigas e comadres e papai estava por perto; eu e José esperávamos nossos pais. Não demorou muito e apareceu uma mulher que se destacava das demais pelo modo de se vestir, era a Professora Daizi Basílio de Novais, logo o Sr Amado falou: boa tarde professora, tudo bem! E continuou, quero matricular meus filhos no colégio, como faço? Ela prontamente passou as devidas informações e fomos apresentados.
Quando chegou o começo das aulas, o colégio novo não tinha sido inaugurado e as aulas começaram numa pequena sala alugada pela prefeitura. Papai nos acompanhou até o patrimônio. Enfrente a sala de aula no meio da rua fizeram a chamada de todos os alunos matriculados, cada turma formava uma fila com sua professora e nós do primeiro ano ficamos com a professora Daizi, cantamos o hino nacional pela primeira vez. No dia seguinte, depois das devidas recomendações de mamãe, eu e José fomos sozinhos para o colégio. Como foi difícil sair sem a companhia de nossos pais. Ainda bem que eu não estava sozinho, pois o medo era muito. Chegando na sala de aula, a professora de unhas grandes e vermelhas começou a escrever com giz branco as vogais no quadro negro.
Cada aluno devia desenhar aquelas letras no seu caderno, mas como ninguém nunca tinha segurado um lápis para escrever, a professora de unhas grandes e vermelhas começou pegando na mão de cada um para ensinar. Eu tremia de medo, a professora era muito estranha para aquele menino de apenas oito anos, não acostumado com pessoas estranhas. Não conseguia prestar atenção nas aulas e quase furava a folha do caderno com a ponta do lápis, quando ia apagar a letra errada com a borracha, quase rasgava a folha.
Com tanto medo da professora, eu, muitas vezes, queria ficar em casa, mas Dona Maria pegava um chinelo ou vara de guaxima e ameaçava dar uma surra. Imediatamente, eu pegava o caderno e o lápis colocava no embornal e logo subia o morro perto de casa rumo a escola. Aos poucos fui acostumando com a professora e fazendo novas amizades, isto foi criando em mim o desejo de estudar sempre. O novo colégio ficou pronto e inaugurado no dia 21 de abril de 1969. No segundo ano, eu já não falava mais “bodeca”, mas boneca e gostava muito de declamar poesias. Guardo com emoção a lembrança de todos os colegas que estudaram comigo nos primeiros anos do ensino fundamental, assim como as professoras: Daizi, Eni, Delma e Marli.
Ermindo Rapozo de Assis
Acredito que tenho prazer em recordar momentos vividos com intensidade, são muitas experiências que guardam no baú de minhas recordações pessoais. O primeiro dia de aula é uma lembrança que mistura ansiedade, curiosidade e novas descobertas daquele menino de 8 anos. Ainda hoje, sou capaz de vivenciar aquele dia 04 de março de 1969, lá no patrimônio de Centenário, município de Mutum-MG.
Na minha família, meus irmãos mais velhos foram alfabetizados em casa mesmo, não existiam escolhas próximas e meu pai gostava de ensinar o alfabeto e as principais operações matemáticas aos rapazes e moças da região. Com isto meus irmãos aprenderam a ler, escrever e fazer cálculos com nosso pai. José e eu somos os mais novos da família e o Sr Amado Raposo já estava com seus 55 anos, as vistas cansadas, por isso resolveu matricular seus filhos no colégio público que estava sendo construído.
Como um casal católico, papai e mamãe sempre participavam das missas celebradas a cada mês na Igreja de São Sebastião, os filhos também iam rezar. Foi numa tarde de domingo que esta história começou: A missa havia terminado e nós estávamos na calçada da capela, mamãe conversando com suas amigas e comadres e papai estava por perto; eu e José esperávamos nossos pais. Não demorou muito e apareceu uma mulher que se destacava das demais pelo modo de se vestir, era a Professora Daizi Basílio de Novais, logo o Sr Amado falou: boa tarde professora, tudo bem! E continuou, quero matricular meus filhos no colégio, como faço? Ela prontamente passou as devidas informações e fomos apresentados.
Quando chegou o começo das aulas, o colégio novo não tinha sido inaugurado e as aulas começaram numa pequena sala alugada pela prefeitura. Papai nos acompanhou até o patrimônio. Enfrente a sala de aula no meio da rua fizeram a chamada de todos os alunos matriculados, cada turma formava uma fila com sua professora e nós do primeiro ano ficamos com a professora Daizi, cantamos o hino nacional pela primeira vez. No dia seguinte, depois das devidas recomendações de mamãe, eu e José fomos sozinhos para o colégio. Como foi difícil sair sem a companhia de nossos pais. Ainda bem que eu não estava sozinho, pois o medo era muito. Chegando na sala de aula, a professora de unhas grandes e vermelhas começou a escrever com giz branco as vogais no quadro negro.
Cada aluno devia desenhar aquelas letras no seu caderno, mas como ninguém nunca tinha segurado um lápis para escrever, a professora de unhas grandes e vermelhas começou pegando na mão de cada um para ensinar. Eu tremia de medo, a professora era muito estranha para aquele menino de apenas oito anos, não acostumado com pessoas estranhas. Não conseguia prestar atenção nas aulas e quase furava a folha do caderno com a ponta do lápis, quando ia apagar a letra errada com a borracha, quase rasgava a folha.
Com tanto medo da professora, eu, muitas vezes, queria ficar em casa, mas Dona Maria pegava um chinelo ou vara de guaxima e ameaçava dar uma surra. Imediatamente, eu pegava o caderno e o lápis colocava no embornal e logo subia o morro perto de casa rumo a escola. Aos poucos fui acostumando com a professora e fazendo novas amizades, isto foi criando em mim o desejo de estudar sempre. O novo colégio ficou pronto e inaugurado no dia 21 de abril de 1969. No segundo ano, eu já não falava mais “bodeca”, mas boneca e gostava muito de declamar poesias. Guardo com emoção a lembrança de todos os colegas que estudaram comigo nos primeiros anos do ensino fundamental, assim como as professoras: Daizi, Eni, Delma e Marli.
Ermindo Rapozo de Assis
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